
Fevereiro 2025
Proteína pode ter contribuído para o aparecimento da linguagem falada.
Uma equipa de cientistas da Universidade Rockefeller, nos Estados Unidos, identificou uma variante proteica exclusiva dos humanos (I197V), que poderá ter desempenhado um papel no surgimento da linguagem falada. Os investigadores verificaram que, a introdução desta variante exclusivamente humana na proteÃna Nova1 em ratinhos, provocou alterações nas suas vocalizações. A Nova1 é uma proteÃna especÃfica dos neurónios, que se liga ao RNA e desempenha um papel essencial no desenvolvimento cerebral e no controlo neuromuscular. O estudo revelou ainda que, nem os neandertais, nem os denisovanos, possuÃam a variante I197V na proteÃna Nova1, codificada pelo gene com o mesmo nome.

Um penso rápido para plantas?
A celulose bacteriana, já usada na medicina para tratar queimaduras e feridas humanas, revelou-se uma ferramenta poderosa para acelerar a cicatrização e a regeneração em plantas. Para testar a sua eficácia, Núria Sánchez Coll e colegas, realizaram pequenos cortes nas folhas de Nicotiana benthamiana (tabaco selvagem) e Arabidopsis thaliana, aplicando adesivos de celulose bacteriana em metade das feridas. Após uma semana, mais de 80% das feridas tratadas cicatrizaram completamente, enquanto menos de 20% das não tratadas apresentaram recuperação. Além disso, enquanto os tecidos das feridas tratadas pareciam saudáveis, os restantes apresentavam sinais de stress e desidratação. Quando aplicada a estacas em placas de Petri, as plantas com celulose bacteriana desenvolveram raÃzes e folhas mais rapidamente, o que é especialmente benéfico para processos de clonagem, amplamente utilizados na agricultura. Curiosamente, a celulose de origem vegetal não teve o mesmo efeito na eficiência da regeneração. O que explica esse efeito? Análises quÃmicas revelaram que a celulose bacteriana contém hormonas vegetais produzidas pelas bactérias durante a sua sÃntese. Surpreendentemente, esses compostos mantêm-se ativos mesmo após a esterilização, possivelmente preservados devido à densa matriz da celulose. A nÃvel genético a celulose bacteriana ativa genes diferentes dos envolvidos na cicatrização natural, sugerindo um mecanismo de reparo único, resultado de uma combinação de fatores: a própria ferida, a presença de hormonas bacterianas e a reação da planta à celulose bacteriana como um corpo estranho. Esta descoberta abre portas para aplicações na agricultura, como facilitar enxertos, preservar material vegetal cortado e melhorar a propagação de plantas em laboratório.

Homem com mutação para Alzheimer precoce resiste à doença mais de 20 anos.
Um homem que deveria ter desenvolvido Alzheimer precoce chegou aos 70 anos sem qualquer declÃnio cognitivo, tornando-se o terceiro caso registado de resistência à doença. O estudo, publicado na Nature Medicine, questiona o papel das proteÃnas associadas ao Alzheimer e os tratamentos que as visam. Desde 2011, o estudo Dominantly Inherited Alzheimer Network (DIAN) acompanha uma famÃlia que apresenta uma mutação no gene PSEN2, que leva à produção de versões do amiloide propensas a formar placas tóxicas no cérebro. Normalmente, os portadores desta mutação desenvolvem Alzheimer por volta dos 50 anos. No entanto, surgiu um caso surpreendente de um homem de 61 anos da mesma famÃlia que não apresenta qualquer sinal da doença, apesar de ter a mutação. Exames ao seu cérebro mostraram a presença de grandes quantidades de amiloide, mas quase nenhuma acumulação de tau, uma proteÃna associada à neurodegeneração. Além disso, a pouca tau encontrada estava confinada ao lobo occipital, uma área do cérebro ligada à perceção visual e não tipicamente afetada pelo Alzheimer. Ao longo de dez anos, testes cognitivos confirmaram que o homem manteve funções normais, e alguns resultados até melhoraram. Os cientistas então analisaram o seu DNA e identificaram nove variantes genéticas ausentes nos seus familiares que desenvolveram Alzheimer. Seis dessas nunca tinham sido associadas à doença, mas estão envolvidas em processos como neuroinflamação e protein folding. Os investigadores acreditam que uma combinação desses fatores genéticos e o ambiente, poderá explicar a resistência do homem ao Alzheimer mais de duas décadas. O seu cérebro também apresentava nÃveis reduzidos de inflamação, o que sugere que o seu sistema imunitário pode não reagir fortemente à s placas amiloides. Este caso desafia a teoria de que o amiloide é o principal causador do Alzheimer e levanta a hipótese de que impedir a propagação da tau no cérebro poderá ser suficiente para retardar ou até evitar a demência. Ensaios clÃnicos estão em curso para testar essa possibilidade, combinando anticorpos que atacam amiloide e tau.
