
Março 2025
Porque é que não nos lembramos de ser bebés?
Uma pesquisa recente revelou que, a dopamina, para além de ser fundamental no reforço de experiências agradáveis, pode também desempenhar um papel importante na redução do valor emocional de memórias associadas a recompensas. No estudo, os camundongos foram expostos a um sinal auditivo que havia sido previamente associado a um alimento de sabor doce. Num segundo momento, o mesmo alimento foi associado a uma sensação de mal-estar - como se como se tivessem comido algo que causou desconforto no estômago, criando um cenário em que o prazer inicial do alimento foi rapidamente alterado pela experiência negativa. Ou seja, após essa associação negativa, a dopamina parece atuar no sentido de desvalorizar a memória relacionada à recompensa, fazendo com que os camundongos evitassem esse alimento no futuro. Esse processo de "reescrita" das memórias está relacionado com a capacidade da dopamina modificar os circuitos neuronais envolvidos na lembrança da recompensa. Ou seja, tanto pode reforçar o valor positivo do alimento doce, ou atenuar a associação, levando a uma mudança comportamental. Esse achado é significativo, uma vez que desafia a visão tradicional da dopamina como uma substância química exclusivamente envolvida no reforço positivo, associada a prazer e recompensa. Este neurotransmissor pode ser também crucial na modulação e até na redução do valor das memórias de recompensas que se tornam indesejadas. Adicionalmente, pode abrir portas para novas estratégias terapêuticas que alteram a forma como lembramos e reagimos aos estímulos, oferecendo um caminho para tratar distúrbios relacionados à memória e ao comportamento, como depressão e a dependência, onde a associação entre substâncias e prazer precisa ser reconfigurada para reduzir o comportamento aditivo.

A dopamina na modificação de memórias associadas a recompensas
Investigadores de Yale descobriram que os bebés conseguem codificar memórias nos primeiros anos de vida, contrariando a ideia de que o hipocampo imaturo impede a formação de memórias. Num estudo, mostraram imagens novas a bebés entre quatro meses e dois anos e testaram se as reconheciam mais tarde. Observaram que, quando o hipocampo estava mais ativo ao ver a imagem pela primeira vez, havia uma maior probabilidade de a reconhecer depois. Os resultados, publicados na Science, indicam que a memória episódica – responsável por recordar eventos específicos – pode surgir mais cedo do que se pensava. Estudos anteriores já tinham identificado outro tipo de memória precoce, a aprendizagem estatística, que permite reconhecer padrões no ambiente. Agora, verificou-se que o hipocampo infantil também consegue armazenar memórias episódicas, especialmente a partir dos 12 meses, altura em que a parte posterior do hipocampo, associada à memória nos adultos, já demonstra atividade. A grande questão é o que acontece a estas memórias ao longo do tempo. Os investigadores suspeitam que podem persistir para além da infância, mas tornar-se inacessíveis. Estudos em curso estão a testar se crianças pequenas conseguem recordar experiências registadas em vídeos da sua infância, sugerindo que estas memórias podem durar até à idade pré-escolar antes de desaparecerem.

Como é que a aspirina pode prevenir a metastização do cancro?
Em experiências com animais, a aspirina aumentou a resposta do sistema imunitário. Sabe-se que quando está a acontecer a metástase, ou seja, quando uma célula isolada sai do tumor para se espalhar para o resto do corpo, os linfócitos T, um grupo de glóbulos brancos, podem destruir esta célula. No entanto, as plaquetas, outro componente do sangue que ajudam a parar hemorragias, estavam a suprimir os linfócitos T e a dificultar o seu trabalho. É aqui que entra a aspirina impedindo que as plaquetas inibam os linfócitos T, permitindo que estes ataquem as células metastáticas de forma mais eficaz. No entanto, a aspirina pode causar hemorragias internas perigosas, incluindo acidentes vasculares cerebrais, pelo que os riscos devem ser ponderados. Além disso, ainda não se sabe se este efeito ocorre em todos os tipos de cancro ou apenas em alguns específicos. Como a investigação foi realizada em modelos animais, será necessário confirmar se os mesmos efeitos se aplicam a seres humanos. A aspirina comum apresenta riscos, e os ensaios clínicos ainda estão a avaliar quais os doentes que poderão beneficiar mais do seu uso.
